sexta-feira, 17 de agosto de 2012

A vida de uma fóbica de palavras.

O que você faz quando sabe que está embarcando numa furada? Se atira no buraco, vai fundo e reza para não ter muita dor de cabeça. Estou me sentindo assim desde que concordei em escrever uma vez por mês no Blog do IHBAJA. Somos quatro e cada um deve escrever um post a cada semana diferente. Enfim, é a minha vez e cá estou eu tentando escrever algo decente que agrade a mim e ao grupo.
A página em branco me olha, eu olho de volta, e ficamos nessa dança durante dias, até que um "santo" diz: "escreve algo curto sobre a instituição que você pesquisa". Eu digo: - "que lindo adorei!" E me f$*&# porque me lembro que como uma boa pessoa prolixa não consigo escrever algo curto.

O ato de escrever é tão penoso para mim, que sinto inveja e pena da pobre pessoa que escolhe ser escritor. Como escrever algo pequeno, longo e ter todos os acertos que queremos? Eu posso entender o processo da pesquisa científica, preparar e ministrar boas aulas, fazer relatórios, e compreender o cara mais louco da vizinhança. Mas escrever algo inteligível e inteligente é para poucos. Como pode um escritor escrever um simples texto e tirar tanto sentimento do leitor? Escrever parece ser um ato tão simples, mas ao mesmo é tão complexo. Não é apenas as formas gramaticais corretas, o bom uso da língua que conta, mas a alma, a forma de escrever e justapor as palavras que fazem do texto, um bom texto. Tivemos verdadeiros mestres da literatura e bons compositores (esses sofrem mais pois constroem a melodia e a letra, algo duplamente penoso para esta criatura que vos fala), todos eles verdadeiros encantadores de palavras. Porque, aqueles que utilizam as palavras, são os seus encantadores. Assim como as abelhas, as palavras protegem ferozmente seu ninho, dão ferroadas dolorosas nos desavisados e naqueles que tentam invadir sua residência, mas para os encantadores, esses seres imbuídos de mágica, à eles as palavras reservam o seu mel.
Tenho uma teoria: apenas uma parcela da humanidade está apta a ser encantadores de palavras. O ser humano nasceu para se expressar, mas veja que coisa, a escrita só surgiu ao fim do neolítico, depois de formas de expressão como a fala, a dança e a pintura! (Se estou cientificamente errada fique quieto que a teoria é a minha!) Assim, nós teremos os faladores, os dançarinos, os pintores, e por último os escritores. Eu sou da classe dos dançarinos. Me coloque um música e sairei dançando, criarei coreografias e irei filosofar sobre a vida numa peça de 5 minutos. Não me peça para escrever textos e resumos. Me lembro de todas as dores e ataques apopléticos que tive em escrever resumos para congressos e artigos. Tenho artigos incompletos e não publicados porque simplesmente não tenho paciência de revisar ou terminar (sim, eu sou louca nesse sentido). Erro em todas as colocações de vírgula, e às vezes cismo em escrever como falo. Como então conservar a serenidade perante a folha em branco? A maioria das pessoas têm macetes. Eu jogo no facebook. Fico horas na internet, até ter um insight e escrever uma linha. Sou boa com títulos e só. É o máximo que consigo. Como então uma dançarina pode tornar-se escritora? Essa é uma pergunta que procuro resposta há anos. Já fiz cursos de redação, promessa, simpatia  e continuo vendo as páginas em branco.
Talvez tenha que gostar de escrever. Assim como amo dançar, a chave seja amar escrever. Tive uma paixão avassaladora pela dança. Como quando encontramos alguém e a química age instantaneamente. Acho que essa não será uma paixão avassaladora, mas uma amizade construída, passo a passo, superando as diferenças e criando vínculos. Quem sabe um dia não vira um amor surgido da amizade?

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