sexta-feira, 17 de agosto de 2012

A díficil e solitária missão de ser uma professora comprometida.

Comprometida. Foi essa a definição que a coordenadora pedagógica usou para me elogiar. Disse coisas lindas para mim na frente de outros professores (o que só fez com que agora eu tenha um alvo no meio da cara). Após fugir dessa explanação e exploração da minha imagem, entrei na sala de aula e comecei a refletir  sobre o porquê dessa encenação toda. Após ficar contagiada pela veia conspiratória do meu namorido, pensei no que a coordenadora quis dizer com comprometida. Percebo que a maior parte desses coordenadores, diretores e todos os "ores" de uma escola particular confundem dedicação ao ensino com dedicação à empresa. A escola particular é um empresa que vende ao seu cliente o ensino. Isso justifica a cobrança desmedida da direção na sua "produção" em sala e nas notas finais. Mas o que essas empresas não percebem é que o bom  educador é aquele que não se preocupa com notas e avaliações e sim com a qualidade do seu ensino.

Confesso que estou longe do ideal de professora. Tenho deficiências que procuro sanar tanto com aprendizado quanto por experiência, mas algo que noto nas escolas particulares é que não há esse interesse da maior parte dos professores. É solitário ser comprometida. Comprometida com o seu trabalho, com os seus alunos, com o mínimo de conhecimento crítico que procuro passar para meus alunos. Não me importo que a opinião deles seja completamente oposta a minha, desde que ele me apresente argumentos convincentes e bem construídos. "Passar a matéria", usar sempre "o cuspe e o giz" e "passar um filminho para ocupar o tempo" são as desculpas mais esfarrapadas que um professor pode dar. Infelizmente são as mais utilizadas.
Qual a matéria que mais lembramos na escola? Qual atividade teve mais proveito para você? 90% dirá que foi aquela com o professor tal com quem se identificava ou o passeio escolar. Porque os professores (que ontem foram alunos e sabem qual a demanda deles) não procuram utilizar meios parecidos?
Não ignoro que não podemos comparar os alunos que fomos com os alunos que temos. São tempos e pensamentos diferentes, mas procurar identificar qual o gosto deles já meio caminho andado, para um melhor rendimento e melhor relacionamento entre você e seus alunos na sala de aula. Tornar a sua aula mais atraente é condição essencial para o aprendizado. Ignorar isso só o faz um profissional e educador medíocre.
Parte do problema é potencializada pela escola. Ao cobrar do professor um determinado tipo de trabalho, ela acaba minando toda  e qualquer tentativa de mudança. Por isso, a maior parte prefere trabalhar em escolas públicas onde "a liberdade de trabalho é maior". Essa cobrança gera uma insatisfação do profissional difícil de contornar, e que será transmitida inconscientemente (e muitas vezes conscientemente) para o aluno. Uma situação desconfortável que gera um círculo vicioso, onde as insatisfações das três partes envolvidas nunca serão sanadas.
Minha experiência é recheada de negativismos por parte de outros professores. Eles se negam à realizar atividades conjuntas, passeios-pedagógicos, e outros tipos de situações que os levem para fora da sua zona de conforto "quadro e giz". Um exemplo: muito provavelmente devem estar sendo proferidas mil maldições contra mim, pois propus um passeio-pedagógico com minhas turmas pelo Paço Imperial do Rio de Janeiro (solicitação da própria direção no início do ano). Até aí tudo bem. Fiz toda a programação, o curso do projeto que coordena o passeio e apresentei a proposta estruturada para a direção. Foi aceito. Quando escolheram a professora acompanhante, a criatura se negou a ir, dizendo que eu "não deveria fazer essas maluquices que não levam à nada". Por sua vez, a direção não procurou saber a minha opinião sobre a escolha. Final da história: vamos juntas no passeio com os alunos e ela não irá fazer nada, será um corpo morto. Não falará comigo, com os alunos e se recusará a prosseguir com as atividades e o passeio (ela já fez isso antes). Situação desagradável que a direção poderia ter evitado ao escolher outro professor.
Ir contra a maré é desgastante. Acreditar que pode fazer o seu trabalho, mesmo com as cobranças das três partes (porque o professor também se cobra) é o mínimo que posso fazer para satisfazer meus alunos e a mim mesma. A escola não é a minha propriedade de satisfação, até porque se eu fosse atender a todas absurdas exigências, não teria tempo nem para respirar. Sou comprometida com conhecimento que posso construir com meus alunos. Como eu disse, estou longe de ser perfeita. Tenho frustrações, muitas vezes "dou aula para a parede" e sinto o meu trabalho e tempo sendo perdidos. Mas se eu não acreditar no meu trabalho quem irá acreditar? Com certeza não será a escola, o aluno e nem os outros professores.

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