Desde criança, meus pais me incentivaram a praticar atividades físicas. Todos os três filhos ocupavam suas tardes, com aulas de dança. judô, natação. futebol, vôlei e derivados. Resultado: filhos fortes, resistentes e esbeltos. Eis que fiz 18 anos, comecei as trabalhar, abandonei as aulas de dança e em 10 anos engordei, engordei, engordei. Depois de anos de tirania dos exercícios físicos, resolvi fazer absolutamente nada e comer tudo o que eu não podia nos meus anos de mocidade.
Nos últimos meses decidi voltar (desesperadamente) a velha forma física. Entrei em dieta, regime, educação alimentar, acupuntura, comecei a malhar, caminhar, mas nada de emagrecer. Só engordei mais 5 quilos. Então comecei a correr, porque se a gordura não saía por bem iria sair por mal. Duas semanas de corrida emagreci horrores, coloquei os meus velhos (e lindos) vestidinhos e vestidões e saí toda prosa ao lado do namorido. Na semana seguinte arranjei uma tendinite nos dois joelhos por excesso esforço.
Depois de ganhar um esporro memorável do médico e lamentar cada grama a mais que ganhei na balança na semana seguinte, o grupo de pesquisa ao qual faço parte realizou uma Caminhada Eco-histórica pelo Parque Estadual da Pedra Branca, um lugar lindo, cheio de verde, passarinhos, micos e paz interior. A programação era: chegada às 09:30, saída em frente à Igreja de São Gonçalo de Amarante às 10h e retorno 13:00. Mas o que minha condição física tem a ver com o passeio? Nada se você não levar em conta que todo o caminho é uma subida eterna.
O passeio foi ótimo e confesso que pensei que iria sentir muito mais meus joelhos (o que rendeu olhares de preocupação dos meus companheiros e piada interna para mim, pois eu rio da minha própria desgraça). Conheci pessoas maravilhosas. Pessoas interessantes apaixonadas pelo bairro em que moram. Inclusive uma ultramarotonista, sendo que não sabia que tal coisa existia. Vi miquinhos, passarinhos e riachinhos. Me perdi (momento desespero), me achei (momento alívio), suei e voltei encantada para a casa do namorido.
O Parque Estadual da Pedra Branca foi criada em 1974 e abrange uma área que liga 27 localidades do Município do Rio de Janeiro. Ele começa em Jacarepaguá, pega o Recreio, Guaratiba, Campo Grande, Realengo, Sulacap e termina em Santa Cruz. Em outras palavras (seguindo o modelo verbal do namorido) "é grande pra #¨$%%&". É meu amigo, se você se perder, reza. Eu rezei.
Após o início do encontro (que começou bem atrasado), começamos a subir a pé até a entrada do parque. Perguntei quanto tempo de caminhava era: "deve ser mais ou menos 1 km, mas é bem leve". Minha resposta: " ah que bom!".
Ainda bem que o dito cujo decidiu correr na frente porque senão eu matava. Sim, era um 1km, DE SUBIDA. Logo no início vi que a coisa seria, digamos, pitoresca. Ouvi batuques e música afro e pensei que era um terreiro de umbanda ou candomblé. Era um Igreja Evangélica da Assembléia de Deus .... Sim! Assembléia de Deus. Um integrante, sem papas na língua, me solta bem alto: "mas parece até festa de terreiro". Resumo: saímos correndo.
Subindo, subindo, subindo, passamos por um núcleo remanescente de quilombo, e continuamos a subida. Carros passavam velozes, homens lavando carros, um ar puro e eu só pensava no pastel e caldo de cana que eu costumo comer perto da casa do namorido.
Vi belíssimas paisagens e acabei aprendendo um pouco mais da história de Jacarepaguá, principalmente do parque. Infelizmente, o mesmo não recebe a atenção que merece. Apenas 30 % de sua vegetação é considerada virgem e 20% de sua área total encontra-se em processo irregular de urbanização.
Sair do "asfalto" e conectar-se com na natureza é uma experiência única. No fim do percurso tivemos uma mini aula de yoga e relaxamento, que foi muito apreciada por todos. E saímos do parque com gostinho de "quero mais". O núcleo do Camorim, de onde partimos, é a parte mais conservada, na minha opinião. Ainda que a sede seja no Pau da Fome, chega a ser "brochante" a condição das trilhas no local. Sem sinalização, com vegetação crescendo, pedras, troncos e lixo pelo meio do caminho. Na última vez que solicitei um guia, a resposta foi que o parque não tinha mais esse serviço.
É possível ver o maciço da Pedra Branca de praticamente qualquer parte de Jacarepaguá. Também é fácil ver as inúmeras queimadas e crescimento de casas nas encostas.
Após o passeio, "viajei" até a casa do namorido. Passei por um mega evento do pastor Valdomiro da Igreja Mundial, o que deixou o trânsito "from the hell". Vi um cavalo de raça fugindo de um estacionamento (????) e um homem desesperado correndo atrás dele. Subi no ônibus e tive que descer no meio da pista para embarcar pela porta de trás já que a catraca tinha quebrado. Enfrentei a lotação tipo lata de sardinha no caminho para a Baixada Fluminense. Passei 4 horas na mata, senti falta dela no restante das 20 horas daquele dia, deitada na cama com o corpo dolorido.
O momento mais nada a ver foi o esporro (um eufemismo para o que de fato ocorreu) que levei durante a caminhada. Sim, porque eu nasci para levar esporros. Não fui a única a ser chamada a atenção, mas como eu estava mais perto do "esporrante" servi como exemplo. Tênis inadequado (fitness), garrafa d'água pequena, sem lanterna, sem casaco, com apenas um biscoitinho club social (que o "esporrante" achou que era uma lasanha de microondas - ???????????), e outras coisitas a mais que apontou em mim para servir de exemplo de como não se deve entrar numa trilha. Eu olhei de soslaio para meus companheiros, todos de boca aberta. Olhei de soslaio para os participantes da trilha, todos com cara de bobos. Olhei para a esposa do "esporrante", ela não estava acreditando na situação. Momento constrangedor e hilário, pois eu tive acesso de riso junto com meu "novo amigo" de caminhada (o mesmo do sincero comentário da Assembléia de Deus). Sim, temos que saber técnicas básicas de sobrevivência. Mas falar com jeitinho é bom e todo mundo gosta. Como já tinha tomado meu prozac diário e eu estava feliz da silva, levei na esportiva. Fiz a técnica da bola de energia, me integrei com a natureza e tirei fotos lindas das pessoas. O que eu aprendi? A natureza é linda, devemos preservá-la, que tenho que fazer mais exercícios físicos e que se você for para uma trilha (de 30 minutos para cima) precisa de corda, canivete, tênis adequado, casaco, saco de dormir, comida para 1 mês, água potável gelada, lanterna, roupa de baixo, celular para emergências, kit de primeiros socorros, roupas sintéticas, facão, mapa da localidade, bússola, astrolábio e bom senso!
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