quarta-feira, 16 de setembro de 2015

30 anos

No dia 13 de setembro de 2015 fiz 30 anos de idade. Não teve festa, comemoração e passei sete horas dentro de um ônibus enjoada até a morte com o cheiro do banheiro. Jones disse que entrei na melhor fase da minha vida. Não tenho tanta certeza. Ter 30 anos não parece ser tão especial quanto qualquer idade que tive ou terei. O que posso dizer é que contrariando meus pensamentos cheguei aos 30 anos. Tenho depressão e sempre me imaginei morrendo antes dos 25. Sabe, com a depressão você não fica muito positiva sobre seu futuro, presente ou passado. Sua vontade some aos poucos. Vontade de sorrir, de comer, de sair, de levantar, de viver. Remédios para controlar os pensamentos e muita psicóloga. Mas enfim, cheguei aos 30 e estou um pouco feliz. Não com a idade, pois isso é o que menos importa. Mas em como as coisas estão. Estou desempregada, quase abandonando o doutorado e fazendo deste blog meu diário pessoal. Mas finalmente consigo me abrir. E finalmente tenho alguém que não me preenche, mas me transborda. Tive que aprender a gostar de mim para depois gostar de alguém. Aprender a não deixar alguém pisar em você só porque você o "ama" ou pensar que ele é o melhor que terá. Tive muitos relacionamentos abusivos na minha vida sem nem perceber que estive num relacionamento desses. Hoje percebo as roubadas nas quais estive e ao invés de me lamentar, ou dizer "cara como fui burra", levanto a cabeça e digo que aprendi muito com eles. Aprendi o que não quero. Nem tudo são flores, mas acreditar quando o rapaz diz que você é menos inteligente que ele quando você tem mais artigos publicados, não é normal. Uma pessoa que diz que te ama não deve te depreciar, mas sim te enaltecer. O tal transbordamento que falei acima. Não é colocar no pedestal da Igreja, mas te impulsionar a sempre melhorar. Jones tem um lema: "você consegue amor". Está sempre dizendo "você é fantástica" e não reclama das minhas roupas, cortes de cabelo, do meu batom vermelho ou da falta dele. Tenho muita sorte em tê-lo na minha vida. E sei que isso causa inveja também. Principalmente de pessoas que não entendem esse tipo de relacionamento, de amantes-amigos. Só conhecem o amantes-dependentes. Uma pena. Desejo o melhor a todos eles. Uma queixa que fiz recentemente no meu extinto Facebook foi o preconceito que muitas pessoas tinham ao Jones. Ele possui deficiência por ter um doença degenerativa, distrofia muscular de Becker, no qual o portador vai perdendo os movimentos dos membros e força dos músculos. Hoje ele anda de bengala, futuramente de cadeira de rodas. Quando o apresentei a minha família, percebi comentários de que seria enfermeira. Sim, cuidarei da pessoa que amo. Assim, como ele cuida de mim, pois no meio das crises é ele que fica abraçado comigo, fazendo cafuné enquanto sinto a maior tristeza que alguém pode sentir. O amo do jeito que é, com bengala, com cadeira de rodas, com rebolado, com voz fina, com barbicha de bode, sorriso fácil e barriguinha de seis meses de gravidez. Vou cuidar dele, vou sair com ele, vou viver com ele. Entendo que este não deve ser o sonho de um relacionamento normal que pais têm para os filhos. Mas foi o que escolhi. Jones não é um inválido. Ama a vida e sabe aproveitá-la muito bem. De nossa viagem-presente à Paraty, quando implorei que saíssemos do Centro Histórico porque estava com medo que ele caísse e se machucasse, ele me disse "Janis, deixa eu passear e andar porque um dia eu não poderei mais, tenho que aproveitar". Isso não é pensamento derrotista. Tenho certeza de que até de cadeira de rodas ele iria passear por lá. Ele lava, passa, cozinha e só não limpa a casa porque essa é minha tarefa. Trabalha em três lugares diferentes e sobre vários ônibus por dia. É mais ativo que eu. Aprendo muito com ele. Mas estou com 30 anos, numa encruzilhada. Posso ir para qualquer caminho. Tenho uma pessoa que amo muito e me faz refletir sobre o verdadeiro valor da vida. Descobri que meu hobby é viajar. Muito mais que dançar, ouvir música ou desenhar. Que sou artista. Tiro fotos maravilhosas com a câmera de 5 megapixels do meu celular porque não tenho condições de comprar uma câmera melhor. Penso no futuro, com um otimismo que não pensei ser possível por muito tempo. Isso é maravilhoso e assusta um pouco. As crises virão, sempre virão. Mas tem luz no fim do túnel. Tenho 30 anos e quero ter mais 30 pela frente.

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