quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Mudança e conflitos

Resolvemos de fato mudar de casa. Algo que já é muito caótico com o passar do tempo e ressonar da notícia se tornou mais caótica ainda. A casa de destino em questão é a casa de infância do Jones que está, digamos assim, em situação deplorável. Meu pai e eu fomos vê-la, e ele com muita diplomacia disse: "a casa é boa, mas precisa de uma boa reforma". E cadê dinheiro para isso? Bem, a situação é que com reforma ou sem reforma nos mudamos. A notícia gerou uma série de protestos de minha família, que depois de muito alarde se comprometeu a ajudar. O problema meus amigos foi os meus digníssimos senhorios. Por alguns desencontros e problemas não entramos em acordo. Portanto obra em casa com pendenga na outra. A coisa boa é que ganhamos duas gatinhas, Kizzy e Bell,  que fazem uma bagunça e são alegria pura. Pasmem,  elas não têm medo de fogos de artifício.
Enfim,  o importante desta postagem é uma reflexão sobre minha primeira noite sozinha desde que me casei. Devido aos meus probleminhas, Jones tem evitado me deixar sozinha. Quando isso acontece ele me deixa aos cuidados de amigos. Hoje é minha primeira noite de fato sozinha. Com Bell e Kizzy, mas sozinha. Minha televisão não pega,  todos meus amigos não respondem no whatsapp e meu pc quebrou. Estou mais ilhada que o Robinson Crusoé. Isto está servindo para uma onda reflexiva e de interiorização sem precendentes. Como fica minha vida no doutorado? Não fica. Fiz absolutamente tudo errado e agora tenho que arcar com as consequências de meus atos.  É hora de arranjar um bom emprego. E minha vida psíquica? Como fica? Por ironia do destino, após mais uma frustração e crise, recomecei a pesquisa e estou lendo meus livros de duas formas, como leitora de auto-ajuda e como historiadora da ciência e da medicina. O que posso dizer é mesmos com mais de 100 anos de publicação, os livros de Austregésilo, de certa forma,  são bem atuais. Eles ainda servem ao seu propósito de higienizar a mente da elite brasileira de então.  Combater o que para ele era psiconeurose e para mim depressão.  Feita as devidas ressalvas e respeitados os anacronismos, estaria eu no consultório de Austregésilo no início do século XX sendo tratada por meio das palavras e com aumento de energia da vontade?  Porque eu definitivamente estou tentando a auto-sugestão. Há tempos ando a procura de um psicólogo ou psicanalista com quem sinta bons resultados. Porém não tive sucesso. Os estou substituindo por "Educação da Alma" e "A Cura dos Nervosos". Péssima atitude para uma historiadora, mas cansei de lutar contra meus instintos. Tentei de todas as formas ler imparcialmente os textos a ponto de parar a pesquisa por quase dois anos. Decidi priorizar-me. O fato é que o doutorado deve ser abandonado. Mas Austregésilo tem me feito um bem que remédio algum fazia.
Outra reflexão da noite é a total inércia de atitudes e preguiça fisica e intelectual que cercou minha vida nesses últimos quatro anos. Me tornei no ser mais apático do universo, o que me leva à infância, pois era exatamente assim quando criança.  Depressão é um negócio engraçado. Você vira uma outra pessoa e ao mesmo tempo retorna a condição de criança.  Hoje fui na casa de minha mãe e a vi nervosa costurando mais de 50 fantasias de dança.  Minha irmã ajudava. Quando tinha 14 anos minha mãe passou por algo parecido, mas por conta de um "ataque de nervos", não conseguiu entregar.  Hoje foi completamente diferente. Minha mãe mudou. Fiquei pensando no quanto mudei também e entendi uma das construções psiquicas de Freud. O ser humano se reestrutura a todo momento. Não há um retorno à um estado de saúde,  pois o antes não era saudável e o agora não é doentio. Há um desequilíbrio causado por um motivo e cabe ao indivíduo se recompor num novo ser para contemplar o desequilíbrio e alcançar um novo equilíbrio. Isso trouxe uma nova perspectiva para mim. Não acredito em cura de estados mentais. Nunca acreditei que  vou ficar curada da depressão.  Tenho há tanto tempo que nem sei quem eu sou sem ela. Me agarrei de tal forma que sem ela parace haver o inexistente. Jones diz que esse pensamento é mais um sintoma. Mas pensando no esquema freudiano percebi que mesmo sendo depressiva eu vivia em equilíbrio com ela. Equilibrio que foi perdido. É necessário me redefinir para compor um novo eu no qual essa depressão também se encaixe. Como fazer isso é a grande questão. Tenho pensado estar no caminho certo. Para depois dar três passos para trás.  Mas o processo de retorno ao equilíbrio deve ser assim mesmo. Estou pensando em retornar as atividade s físicas e persistir na dança.  Vamos ver. O meu principal problema de hoje é dormir enquanto a Bell cutuca minha barriga e a Kizzy brinca no meu cabelo.  Boa noite.

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

30 anos

No dia 13 de setembro de 2015 fiz 30 anos de idade. Não teve festa, comemoração e passei sete horas dentro de um ônibus enjoada até a morte com o cheiro do banheiro. Jones disse que entrei na melhor fase da minha vida. Não tenho tanta certeza. Ter 30 anos não parece ser tão especial quanto qualquer idade que tive ou terei. O que posso dizer é que contrariando meus pensamentos cheguei aos 30 anos. Tenho depressão e sempre me imaginei morrendo antes dos 25. Sabe, com a depressão você não fica muito positiva sobre seu futuro, presente ou passado. Sua vontade some aos poucos. Vontade de sorrir, de comer, de sair, de levantar, de viver. Remédios para controlar os pensamentos e muita psicóloga. Mas enfim, cheguei aos 30 e estou um pouco feliz. Não com a idade, pois isso é o que menos importa. Mas em como as coisas estão. Estou desempregada, quase abandonando o doutorado e fazendo deste blog meu diário pessoal. Mas finalmente consigo me abrir. E finalmente tenho alguém que não me preenche, mas me transborda. Tive que aprender a gostar de mim para depois gostar de alguém. Aprender a não deixar alguém pisar em você só porque você o "ama" ou pensar que ele é o melhor que terá. Tive muitos relacionamentos abusivos na minha vida sem nem perceber que estive num relacionamento desses. Hoje percebo as roubadas nas quais estive e ao invés de me lamentar, ou dizer "cara como fui burra", levanto a cabeça e digo que aprendi muito com eles. Aprendi o que não quero. Nem tudo são flores, mas acreditar quando o rapaz diz que você é menos inteligente que ele quando você tem mais artigos publicados, não é normal. Uma pessoa que diz que te ama não deve te depreciar, mas sim te enaltecer. O tal transbordamento que falei acima. Não é colocar no pedestal da Igreja, mas te impulsionar a sempre melhorar. Jones tem um lema: "você consegue amor". Está sempre dizendo "você é fantástica" e não reclama das minhas roupas, cortes de cabelo, do meu batom vermelho ou da falta dele. Tenho muita sorte em tê-lo na minha vida. E sei que isso causa inveja também. Principalmente de pessoas que não entendem esse tipo de relacionamento, de amantes-amigos. Só conhecem o amantes-dependentes. Uma pena. Desejo o melhor a todos eles. Uma queixa que fiz recentemente no meu extinto Facebook foi o preconceito que muitas pessoas tinham ao Jones. Ele possui deficiência por ter um doença degenerativa, distrofia muscular de Becker, no qual o portador vai perdendo os movimentos dos membros e força dos músculos. Hoje ele anda de bengala, futuramente de cadeira de rodas. Quando o apresentei a minha família, percebi comentários de que seria enfermeira. Sim, cuidarei da pessoa que amo. Assim, como ele cuida de mim, pois no meio das crises é ele que fica abraçado comigo, fazendo cafuné enquanto sinto a maior tristeza que alguém pode sentir. O amo do jeito que é, com bengala, com cadeira de rodas, com rebolado, com voz fina, com barbicha de bode, sorriso fácil e barriguinha de seis meses de gravidez. Vou cuidar dele, vou sair com ele, vou viver com ele. Entendo que este não deve ser o sonho de um relacionamento normal que pais têm para os filhos. Mas foi o que escolhi. Jones não é um inválido. Ama a vida e sabe aproveitá-la muito bem. De nossa viagem-presente à Paraty, quando implorei que saíssemos do Centro Histórico porque estava com medo que ele caísse e se machucasse, ele me disse "Janis, deixa eu passear e andar porque um dia eu não poderei mais, tenho que aproveitar". Isso não é pensamento derrotista. Tenho certeza de que até de cadeira de rodas ele iria passear por lá. Ele lava, passa, cozinha e só não limpa a casa porque essa é minha tarefa. Trabalha em três lugares diferentes e sobre vários ônibus por dia. É mais ativo que eu. Aprendo muito com ele. Mas estou com 30 anos, numa encruzilhada. Posso ir para qualquer caminho. Tenho uma pessoa que amo muito e me faz refletir sobre o verdadeiro valor da vida. Descobri que meu hobby é viajar. Muito mais que dançar, ouvir música ou desenhar. Que sou artista. Tiro fotos maravilhosas com a câmera de 5 megapixels do meu celular porque não tenho condições de comprar uma câmera melhor. Penso no futuro, com um otimismo que não pensei ser possível por muito tempo. Isso é maravilhoso e assusta um pouco. As crises virão, sempre virão. Mas tem luz no fim do túnel. Tenho 30 anos e quero ter mais 30 pela frente.

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Da maravilha de se ter amigos

Uma das coisas que mais amo em ter me casado com o Jones são os amigos dele. Pela primeira vez os raios cósmicos e as forças do universo se confluíram em um movimento perfeito de entrosamento. Adoro os amigos dele, eles me adoram (acredito eu) e os meus amigos gostam dos amigos dele. Coisa deliciosa. Isso tornou possível uma viagem que o "nosso" amigo Sérgio agendou e coordenou para Paraty, no Rio de Janeiro. Como carioca e historiadora, pasmem, nunca tinha ido à essa cidadezinha encrustada na Mata Atlântica por um lado e cercada pelo mar do outro. Sempre achei que devia ser uma cidade caríssima visto as tabelas tarifárias da maior parte dos hotéis e pousada que vi na internet. Uma dica de pesquisa é esse site: http://www.paraty.com.br/hoteis.asp (Eles fazem uma divisão por preço ou localidade). Como fomos de ônibus escolhemos uma pousada entre a rodoviária e o centro histórico na Avenida Roberto Silveira (http://www.paraty.com.br/brisadaserra/). A localização foi fundamental já que o Jones não pode andar muito. Ah! E também se forem de ônibus saibam que a viagem demora no mínimo cinco horas. Dramin na veia. Esqueci o meu e me ferrei na volta. Voltando ao post. Paraty é uma cidade charmosa e deliciosa. Não vou ficar me alongando aqui sobre a história da cidade, pois você pode pesquisar em diversos sites por aí. O que devemos saber é que Paraty teve seu momento áureo na época do ouro quando o caminho real terminava por lá e servia como porto de escoamento dos metais preciosos de Minas Gerais. Da abertura do caminho novo que modificou a rota para o Rio de Janeiro, Paraty viveu quase esquecida quando em fins do século XX foi redescoberta como rota turística. O seu centro histórico é todo tombado e foi por lá que ficamos. Fazia muito frio (15°C) e chovia muito. Mas mesmo assim nossa estadia foi maravilhosa. A população flutuante da cidade é enorme e vários são os idiomas e sotaques que você ouve ali e aqui. Prepare-se que o preço lá acompanha a inflação. Pão com mortadela comprado do supermercado pode ser a grande pedida da noite se você for um viajante pobre como eu. Acordar cedo, só se for passeio de escuna. Se não, apareça por lá só pelas 10h da manhã. As lojas do Centro Histórico só abrem mesmo à tarde e à noite. E tênis, muito tênis nos seus pés. Nada de salto ou sandalhinha. As pedras do Centro Histórico são um desafio à parte para todos os turistas. Eu caminhando com dificuldade, tentando não escorregar e carregar o Jones junto, vi estarrecida dois entregadores de bicicleta zanzando pelas ruas históricas com a mesma destreza que eu caminho no asfalto. Pensei que eles deviam aprender a andar de bicicleta ali antes mesmo de aprenderem a andar. Jones fez malabarismos com a sua bengala, mas não caiu uma só vez. Orgulho do meu menino! Conversando com a dona da Pousada ficamos sabendo que numa obra para o cabeamento subterrâneo de energia, as pedras do centro histórico não foram colocadas corretamente dificultando mais ainda o que já era dificultoso. Seria interessante colocar rampas de madeira nas laterais das ruas, facilitando o acesso às pessoas com dificuldade de locomoção. Visitar as igrejas históricas de Paraty foi um capítulo à parte. Duas estavam fechadas. A matriz conseguimos entrar e nos deparamos com um cachorro "rezando" aos pés da imagem de um santo. A outra (a de Santa Rita) sofremos bullying. O segurança nos fez dar a volta inteira no quarteirão para que o Jones pudesse chegar na Igreja e ter o prazer de dizer na porta que estava fechada para almoço. Raiva mil. Comemos no que achamos ser o restaurante mais barato do lugar com um "PF" de R$ 18,00 que infelizmente não comi pois o meu peixe era só espinha.Os demais adoraram seus pratos. Sorte a minha né?! E depois saboreamos um cafezinho no Café Divino. Sensacional! Café coado na sua frente, na sua mesa, com a proprietária que adora conversar tornando tudo muito mais aconchegante. Volto lá com certeza. Gostaria de agradecer ao Sergio por essa surpresa maravilhosa e por nos ter apresentado ao Ricardo, outra pessoa que dá gosto de conhecer. Ps.: Fiz 30 anos no domingo.