Durante esse ano de 2012 realizei alguns passeios pedagógicos com os alunos de uma das escolas onde leciono. Os passeios foram bem realizados, tiveram amplo sucesso e êxito. Mas o seu desenvolvimento foi problemático. Entraves dos alunos, da direção e de outros professores são as minhas maiores dores de cabeça quando "invento" um passeio pedagógico. Alunos que não podem ir ou que não querem, professores que acham tudo uma perda de tempo e direção contrária à uma ideia mínima de organização, sempre me fazem pensar se devo mesmo realizar os tais passeios.
Para começar, minha ideia de passeio escolar, não é somente "vamos conhecer o museu e voltar para a escola". Gosto de realizar uma preparação pedagógica prévia, de ir antes aos locais, conhecer os espaços, elaborar materiais didáticos para serem realizados durante o passeio e preparar os alunos para o evento. Dedico sempre uma ou duas aulas para ensinar os alunos o tópico do passeio, o comportamento adequado e estimulá-los ao conhecimento.
Pode parecer trabalho extra da minha parte, mas o resultado é surpreendente.
Consegui realizar dois passeios em uma das escolas particulares onde leciono história, vamos chamá-la de escola 1. A outra escola, até hoje não conseguiu disponibilizar o tal transporte, vamos chamá-la de escola 2.
Na escola 1, escolhi dois passeios relacionados às matérias do 6º e 8º anos, turmas em que leciono, formação da cidade do Rio de Janeiro e Sítios Arqueológicos. O primeiro passeio foi ao Centro Cultural da Marinha, com passeio pela Baía de Guanabara e à Ilha Fiscal. Uma vez lá, fomos direto para passeio de barco, ponto alto do passeio, onde eles se divertiram e prestaram atenção às explicações da guia turística. Em aula anterior, com um mapa do Rio de Janeiro, havia explicado onde se localizavam os pontos turísticos, as cidades de Niterói e Rio de Janeiro, o que era a Ilha Fiscal, o que foi a Segunda Guerra Mundial, e os vestígios arqueológicos que podemos encontrar no local. As informações da sala de aula se complementaram com o passeio. A cada volta, eles se surpreendiam com as formações rochosas estudadas nas aulas de geografia, discutíamos a poluição da Baía de Guanabara e o desenvolvimento sustentável, vibravam com a "descoberta" do Pão de Açúcar e o morro Cara de Cão, levando os turistas aos risos. Tiraram fotos maravilhosas, se comportaram exemplarmente e saíram com um sorriso no rosto, pois puderam comprovar que aquilo que aprendiam em sala, no linguajar deles, "realmente existia" e "era importante".
Terminado o passeio de barco, fomos às instalações do museu. Se encantaram com o barco de D, João VI e pedi à um aluno explicar quem era o príncipe regente e depois Rei de Portugal e Brasil. Depois em uma maquete da Baía e das instalações militares da marinha confirmei se eles agora sabiam se localizar na maquete. Lá também , eles tiveram o primeiro contato com vestígios arqueológicos, confirmando nas suas cabeças o que seriam os tais vestígios que o livro de história tanto falava.
Depois fomos aos navios. Ficaram maravilhados com as armas utilizadas na 2º G.M. e com o submarino-museu. O helicóptero não fez tanto sucesso, até porque eles queriam ir à Ilha Fiscal imaginando ter uma "festa como o do último baile da família imperial". Para nossa surpresa, bem na nossa vez, o pier que liga a Ilha ao continente cedeu e ficamos literalmente a ver navios. Conformados, lanchamos e foram comprar suvenirs na lojinha do Centro Cultural.
A questão nesse passeio foi apresentar a cidade em que moram, uma vez que eles mal conhecem seu bairro. Contar um pouco da história do Rio e tentar tirar do nível da abstração e trazer para o concreto, conceitos como vestígios arqueológicos, formação da cidade, etc. Considero que o passeio foi muito bem sucedido. Uma vez em sala de aula, realizamos várias atividades como redação, escolha das melhores fotos tiradas, debates sobre a importância das forças armadas para um país, da despoluição da Baía de Guanabara. No fim saímos da disciplina história e realizamos uma discussão que envolvia outras questões, tão importantes quanto à matéria, e que serviram como reflexão para as turmas.
Agora o ponto baixo do passeio: a escola foi super organizada, conseguiu o nosso transporte, resolveu toda papelada e me deixou à vontade para realizar as atividades e o passeio conforme meu desejo. O único problema foi a companhia. Não pude escolher o professor auxiliar e infelizmente, o escolhido, não aprecia as atividades "fora da escola". A situação chegou a tal nível de estresse que os alunos perceberam a insatisfação do professor. Um clima ruim que poderia ter sido contornado.
Me pergunto, porque a maior parte dos professores hoje não gostam de realizar passeios pedagógicos? Minhas melhores lembranças escolares foram os passeios aos parques de diversões, à Petrópolis, aos museus da vida. Sempre fui nerd, mas a bagunça no meio do caminho também era imperdível. Sair dos muros da escola e ir para "um lugar diferente", percebo que até hoje, é desejado pelos alunos. Sim, a aula cuspe e giz (no caso atual cuspe e quadro branco) é confortável, dá menos trabalho, mas é menos enriquecedor. O magistério é reinventar-se o tempo todo, aprender com os alunos ao mesmo tempo que eles aprendem com você, é uma troca de conhecimento, que não deve ser realizada apenas dentro da sala. Temos disponível hoje redes sociais, informações, vídeos, músicas, livros, recursos que nossos professores não possuíam. Talvez por isso eles se valessem desses "passeios" para acabar com a monotonia das aulas. Essa pode ser uma explicação, mas não a finalização. Temos imensa dificuldade em utilizar todos esses recursos de modos satisfatório, isso por si só já é um problema. Mas largar de mão outro recurso prazeroso e enriquecedor como o passeio-pedagógico é um erro enorme. Nesses passeios, quando bem elaborados, são melhores que muitas aulas cuspe e giz. Ali o aluno têm a oportunidade de aprender na prática, tocar o instrumento abstrato tão comentado nas aulas, conhecer seu entorno e a si próprio. Ele aprende e apreende conceitos e modo de viver que até então lhe eram desconhecidos, ele está no mundo, como um observador e um produtor de conhecimento. Nós, professores, também aprendemos sobre nossos alunos. Seu comportamento, interesse, "sacadas", tudo isso serve para entendermos a pessoa com que lidamos algumas horas semanais, a quem temos de responder a todo momento a famigerada pergunta "porque temos que aprender isso?", mesmo que ela não seja verbalizada. Um passeio-pedagógico não é uma ótima maneira de respondê-la? Fica a reflexão.
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