quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Aí eu vi essa pergunta do face, entrei em pânico em posição fetal por me achar uma fracassada com 30 anos, mas depois vi que estava tudo bem.

           Nesse momento só queria estar assim que nem ela!

"Janis onde você trabalha agora?" Essa pergunta do Facebook me persegue todo dia. Eu abro minha página da rede social  e o Face dá um jeitinho de colocar ali bem no cantinho, onde não capte sua atenção de imediato, mas que não saia do seu campo de visão. Eita perguntinha chata! Que pressão tradicional é essa que eu tenho que dizer onde trabalho? Tenho que ter um trabalho formal pra poder completar meu cadastro? Eu tenho que completar meu cadastro? Quem disse? E o pior é que mesmo sendo historiadora a rede social adora perguntar se eu trabalho no Hospital Estadual Albert Schweitzer ou em qualquer hospital Brasil afora.
Essa pergunta tão capiciosa me atormentou durante bom tempo. Como uma acadêmica, é muito comum ouvir um "quando você vai começar a trabalhar?" ou "você ganha dinheiro mas não assina carteira". Hoje em dia eu digo que trabalho na minha área acadêmica, que o mestrado e doutorado são trabalhos, meus orientadores são meus chefes, etc etc. Cansei de ouvir muita besteira de quem não faz a menor ideia do que fala e não acrescenta nada, absolutamente nada na minha vida. A opinião de meus pais e do Jones são os que levo comigo. São essas três únicas pessoas que importam afinal. "Mas vá lá Janis, que pensamento libertador, você é tão descolada" (ou seja lá o que digam hoje em dia). Gente, não sou tão inteligente e progressista quanto o grupo de cinema que integro no whatsapp pensa. Sou apenas fruto de inúmeras reflexões, ressacas e conflitos internos que enfrento nos últimos meses. Eu descobri que a perguntinha acima é só uma perguntinha e agora ela não tem poder nenhum. Ter um empregador, um "emprego" de carteira assinada, uma "carreira" ou o que for não vai me fazer uma pessoa melhor, com dinheiro, iluminada ou guru da felicidade. Ser feliz é amar as pessoas ao seu redor, viver bem consigo mesmo, fazer o bem, e poder andar na rua sem ser incomodado. Ter filosofia de vida que não agrida ninguém. Pra mim isso é ser feliz. Receber salário de fim do mês é bom ... pra comprar roupa, sorvete, viagem e roupinhas fofinhas e bizarras pra colocar nas gatinhas de casa. Ter dinheiro pelo que percebi te traz mais problema que resolução. Primeiro: VOCÊ TEM QUE FAZER O IMPOSTO DE RENDA. Tem coisa mais absurda que isso. Segundo: Levanta a cobiça das pessoas. Se você faz uma reforminha necessária na tua casa, caramba ... guarda o material e o pedreiro que a vizinhança vai bisbilhotar. Terceiro: se tu compra algo que precisa e inevitavelmente chega em casa com uma sacola diferente que a do supermercado, já te olham com uma cara que "tu tá cheio de grana". Quarto: ai tu resolve fazer uma viagem super desejada e alguém muito próximo vai estragar tudo dizendo o quanto desnecessário é esse teu capricho que o correto é ficar em casa e guardar para alguma ocasião (que pela lógica dele nunca virá). E por aí. Você fica escravo de um horário muitas vezes incompatível com seu horário biológico, se desdobrando para tornar o labor numa coisa mecânica e descobre que a vida de adulto é uma grande versão debochada da escola ou de um episódio de Grey Anatomy, só que agora você paga conta.
Não assinam minha carteira desde 2012 quando entrei em contrato para professor substituto. Estou, digamos, que fora do ambiente formal há muito tempo e espero até que retorne um dia para ter um renda segura para planejar minhas viagens com segurança. Quero ter um carrinho, mas só pra levar o Jones pra lá e pra cá e fazer uma reforma em casa porque está tendo goteiras na casa de baixo. E só. Escolhi uma profissão em que não tenho que ficar presa numa mesa e cadeira olhando a vida passar, sem dinâmica alguma além do jogo de paciência e no web whatsapp clandestino no pc da empresa. Nunca foi minha preocupação de vida ter uma carreira. Aí me mandam várias mensagens com concursos públicos e vagas com salários de 9 mil a 14 mil reais e pouquinho. Paro olho o edital e digo não. Não quero ficar presa em escritório por mais de 40 horas (porque no final será isso), levando trabalho pra casa e me estressando com problemas aqui e ali. Ou ainda entrar num ambiente hostil, mais selvagem e cruel que a "lei natureza". Não. Prefiro ficar aqui, nas salas de aula, com todos os problemas que possuí. Na penumbra, fazendo meu trabalho e tentando fazer a diferença daqui mesmo. Quero entrar em casa, ver a Elsa e falar "princesa da disney de araque que que tu fez o dia inteiro? Cadê o resto que não veio me ver?". Olhar pra cara do Jones e dizer um eu te amo, como forma de exorcizar os problemas. Fazer minhas aulas dos dias seguintes. Deitar e ver séries até dormir.
Quero acordar no fim de semana, dizer que quero sair e parar em Paquetá, assim sem mais nem menos, só porque deu vontade. Quero acordar, ver meus sobrinhos  correndo atrás das gatas, dar um esporro neles e depois dar um sorvete. Não quero me mudar para um lugar mais chique porque condiz com meu status social, não quero vestir roupas de grife, não quero comprar carro do ano, não quero viajar para lugares luxuosos e colocar na rede social por status, não quero ter filhos porque mais conveniente no momento, não quero ter um gato ou cachorro de raça, não quero ler Dostoiévski porque sou hipster, hippie, indie, nerd, geek,  etc etc. Quero só fazer a função que eu escolhi por amá-la, ver sorrisos e solucionar conflitos, pegar meu ônibus tranquila, dormir até quando não querer mais, viajar sem destino durante um mês inteiro e fazer amor com a pessoa que me aceitou do jeito que sou. Quero coisas simples. Se eu for "grande" (como meu pai diz) em algum setor profissional será pelo ocaso, não é minha finalidade. Se você tem esse desejo legal meu amigo! Ótimo pra você! Vá, busque seu sonho, só não pise em ninguém no meio do caminho! Espero que seja imensamente feliz! Mas se quando chegar, você um dia perceber que está infeliz e que você queria era mesmo o surf do final de semana e o parquezinho com as crianças, sinto muito, mas você foi vítima do "você tem que ter um emprego pra ser alguém, uma pessoa e um cidadão de respeito" que a sociedade impõe. Seja essa pessoa de respeito com que te faz feliz (sem matar ninguém tá?!)
E Facebook, eu não tenho uma resposta pra você? E não me importo. E sabe de uma coisa, se um dia tiver um crachá de não sei da onde. Pode deixar que eu não dizer de onde é. Me pergunte outra coisa como o que eu faço pra ser feliz, é melhor não acha?

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

La Bayadére (o templo da dança):

No ano de 2001, a escola de dança onde eu estudava realizou um festival interno e cansadas de dançar cupidos, auroras, quitérias e outras, a maioria das bailarinas decidiram interpretar Nikia (claro que a mulher que vos fala não fez parte dessa turma).

La Bayadére é um dos ballets que mais gosto, tanto pelo cenário exótico, a Índia, quanto pelo final triste.
História (retirado do wikipédia)


O ballet narra a história de Nikia, uma dançarina do templo e de Solor, um jovem guerreiro. Os jovens apaixonados planejam fugir juntos e juram fidelidade diante do fogo sagrado. No entanto Solor esquece de seu juramento quando o Rajá, satisfeito com o presente que recebeu de Solor ( vitória na guerra) lhe ofecere a mão de sua filha Gamzatti em casamento.

Ao saber do casamento, Nikia vai ao encontro de a Gamzatti e revela o seu amor por Solor e implorando que o deixe para ela. Gamzatti tenta comprar Nikia com jóias e presentes. Nikia recusa e num ato de desespero ameaça Gamzatti com um punhal, chocada com seu próprio gesto foge apavorada.
Na celebração do noivado de Solor e Gamzatti, o Rajá ordena que Nikia dance com as demais bailadeiras. Durante a dança ela recebe uma cesta de flores na qual havia um serpente venenosa escondida. Nikia é mordida e agoniza. O Sacerdote Brâmane se prontifica a salvá-la caso ela aceite pertence-lhe. Após ver Solor com Gamzatti, a jovem recusa, e morre.

Após a morte da sua amanda Solor encontra-se tomado de pesar e remorso. Magdaveya, querendo distraí-lo daquelas sombrias disposições, lhe oferece ópio para fumar. Solor adormece e sonha que, em companhia de Nikia, a seus olhos apresentam-se os espectros da bailadeiras. Solor é levado a se casar com Gamzatti, quebrando seu juramento a Nikia. A profecia da Bailadeira realiza-se, acontece uma terrível trovoada e o templo cai em ruínas. Dos escombros aparece Nikia, que vem buscar Solor para viverem seu amor na eternidade. (Retirado do site Wikipédia)


Comentários dos bailarinos e integrantes do Houston Ballet sobre La Bayadére (em inglês):










quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Mudança e conflitos

Resolvemos de fato mudar de casa. Algo que já é muito caótico com o passar do tempo e ressonar da notícia se tornou mais caótica ainda. A casa de destino em questão é a casa de infância do Jones que está, digamos assim, em situação deplorável. Meu pai e eu fomos vê-la, e ele com muita diplomacia disse: "a casa é boa, mas precisa de uma boa reforma". E cadê dinheiro para isso? Bem, a situação é que com reforma ou sem reforma nos mudamos. A notícia gerou uma série de protestos de minha família, que depois de muito alarde se comprometeu a ajudar. O problema meus amigos foi os meus digníssimos senhorios. Por alguns desencontros e problemas não entramos em acordo. Portanto obra em casa com pendenga na outra. A coisa boa é que ganhamos duas gatinhas, Kizzy e Bell,  que fazem uma bagunça e são alegria pura. Pasmem,  elas não têm medo de fogos de artifício.
Enfim,  o importante desta postagem é uma reflexão sobre minha primeira noite sozinha desde que me casei. Devido aos meus probleminhas, Jones tem evitado me deixar sozinha. Quando isso acontece ele me deixa aos cuidados de amigos. Hoje é minha primeira noite de fato sozinha. Com Bell e Kizzy, mas sozinha. Minha televisão não pega,  todos meus amigos não respondem no whatsapp e meu pc quebrou. Estou mais ilhada que o Robinson Crusoé. Isto está servindo para uma onda reflexiva e de interiorização sem precendentes. Como fica minha vida no doutorado? Não fica. Fiz absolutamente tudo errado e agora tenho que arcar com as consequências de meus atos.  É hora de arranjar um bom emprego. E minha vida psíquica? Como fica? Por ironia do destino, após mais uma frustração e crise, recomecei a pesquisa e estou lendo meus livros de duas formas, como leitora de auto-ajuda e como historiadora da ciência e da medicina. O que posso dizer é mesmos com mais de 100 anos de publicação, os livros de Austregésilo, de certa forma,  são bem atuais. Eles ainda servem ao seu propósito de higienizar a mente da elite brasileira de então.  Combater o que para ele era psiconeurose e para mim depressão.  Feita as devidas ressalvas e respeitados os anacronismos, estaria eu no consultório de Austregésilo no início do século XX sendo tratada por meio das palavras e com aumento de energia da vontade?  Porque eu definitivamente estou tentando a auto-sugestão. Há tempos ando a procura de um psicólogo ou psicanalista com quem sinta bons resultados. Porém não tive sucesso. Os estou substituindo por "Educação da Alma" e "A Cura dos Nervosos". Péssima atitude para uma historiadora, mas cansei de lutar contra meus instintos. Tentei de todas as formas ler imparcialmente os textos a ponto de parar a pesquisa por quase dois anos. Decidi priorizar-me. O fato é que o doutorado deve ser abandonado. Mas Austregésilo tem me feito um bem que remédio algum fazia.
Outra reflexão da noite é a total inércia de atitudes e preguiça fisica e intelectual que cercou minha vida nesses últimos quatro anos. Me tornei no ser mais apático do universo, o que me leva à infância, pois era exatamente assim quando criança.  Depressão é um negócio engraçado. Você vira uma outra pessoa e ao mesmo tempo retorna a condição de criança.  Hoje fui na casa de minha mãe e a vi nervosa costurando mais de 50 fantasias de dança.  Minha irmã ajudava. Quando tinha 14 anos minha mãe passou por algo parecido, mas por conta de um "ataque de nervos", não conseguiu entregar.  Hoje foi completamente diferente. Minha mãe mudou. Fiquei pensando no quanto mudei também e entendi uma das construções psiquicas de Freud. O ser humano se reestrutura a todo momento. Não há um retorno à um estado de saúde,  pois o antes não era saudável e o agora não é doentio. Há um desequilíbrio causado por um motivo e cabe ao indivíduo se recompor num novo ser para contemplar o desequilíbrio e alcançar um novo equilíbrio. Isso trouxe uma nova perspectiva para mim. Não acredito em cura de estados mentais. Nunca acreditei que  vou ficar curada da depressão.  Tenho há tanto tempo que nem sei quem eu sou sem ela. Me agarrei de tal forma que sem ela parace haver o inexistente. Jones diz que esse pensamento é mais um sintoma. Mas pensando no esquema freudiano percebi que mesmo sendo depressiva eu vivia em equilíbrio com ela. Equilibrio que foi perdido. É necessário me redefinir para compor um novo eu no qual essa depressão também se encaixe. Como fazer isso é a grande questão. Tenho pensado estar no caminho certo. Para depois dar três passos para trás.  Mas o processo de retorno ao equilíbrio deve ser assim mesmo. Estou pensando em retornar as atividade s físicas e persistir na dança.  Vamos ver. O meu principal problema de hoje é dormir enquanto a Bell cutuca minha barriga e a Kizzy brinca no meu cabelo.  Boa noite.

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

30 anos

No dia 13 de setembro de 2015 fiz 30 anos de idade. Não teve festa, comemoração e passei sete horas dentro de um ônibus enjoada até a morte com o cheiro do banheiro. Jones disse que entrei na melhor fase da minha vida. Não tenho tanta certeza. Ter 30 anos não parece ser tão especial quanto qualquer idade que tive ou terei. O que posso dizer é que contrariando meus pensamentos cheguei aos 30 anos. Tenho depressão e sempre me imaginei morrendo antes dos 25. Sabe, com a depressão você não fica muito positiva sobre seu futuro, presente ou passado. Sua vontade some aos poucos. Vontade de sorrir, de comer, de sair, de levantar, de viver. Remédios para controlar os pensamentos e muita psicóloga. Mas enfim, cheguei aos 30 e estou um pouco feliz. Não com a idade, pois isso é o que menos importa. Mas em como as coisas estão. Estou desempregada, quase abandonando o doutorado e fazendo deste blog meu diário pessoal. Mas finalmente consigo me abrir. E finalmente tenho alguém que não me preenche, mas me transborda. Tive que aprender a gostar de mim para depois gostar de alguém. Aprender a não deixar alguém pisar em você só porque você o "ama" ou pensar que ele é o melhor que terá. Tive muitos relacionamentos abusivos na minha vida sem nem perceber que estive num relacionamento desses. Hoje percebo as roubadas nas quais estive e ao invés de me lamentar, ou dizer "cara como fui burra", levanto a cabeça e digo que aprendi muito com eles. Aprendi o que não quero. Nem tudo são flores, mas acreditar quando o rapaz diz que você é menos inteligente que ele quando você tem mais artigos publicados, não é normal. Uma pessoa que diz que te ama não deve te depreciar, mas sim te enaltecer. O tal transbordamento que falei acima. Não é colocar no pedestal da Igreja, mas te impulsionar a sempre melhorar. Jones tem um lema: "você consegue amor". Está sempre dizendo "você é fantástica" e não reclama das minhas roupas, cortes de cabelo, do meu batom vermelho ou da falta dele. Tenho muita sorte em tê-lo na minha vida. E sei que isso causa inveja também. Principalmente de pessoas que não entendem esse tipo de relacionamento, de amantes-amigos. Só conhecem o amantes-dependentes. Uma pena. Desejo o melhor a todos eles. Uma queixa que fiz recentemente no meu extinto Facebook foi o preconceito que muitas pessoas tinham ao Jones. Ele possui deficiência por ter um doença degenerativa, distrofia muscular de Becker, no qual o portador vai perdendo os movimentos dos membros e força dos músculos. Hoje ele anda de bengala, futuramente de cadeira de rodas. Quando o apresentei a minha família, percebi comentários de que seria enfermeira. Sim, cuidarei da pessoa que amo. Assim, como ele cuida de mim, pois no meio das crises é ele que fica abraçado comigo, fazendo cafuné enquanto sinto a maior tristeza que alguém pode sentir. O amo do jeito que é, com bengala, com cadeira de rodas, com rebolado, com voz fina, com barbicha de bode, sorriso fácil e barriguinha de seis meses de gravidez. Vou cuidar dele, vou sair com ele, vou viver com ele. Entendo que este não deve ser o sonho de um relacionamento normal que pais têm para os filhos. Mas foi o que escolhi. Jones não é um inválido. Ama a vida e sabe aproveitá-la muito bem. De nossa viagem-presente à Paraty, quando implorei que saíssemos do Centro Histórico porque estava com medo que ele caísse e se machucasse, ele me disse "Janis, deixa eu passear e andar porque um dia eu não poderei mais, tenho que aproveitar". Isso não é pensamento derrotista. Tenho certeza de que até de cadeira de rodas ele iria passear por lá. Ele lava, passa, cozinha e só não limpa a casa porque essa é minha tarefa. Trabalha em três lugares diferentes e sobre vários ônibus por dia. É mais ativo que eu. Aprendo muito com ele. Mas estou com 30 anos, numa encruzilhada. Posso ir para qualquer caminho. Tenho uma pessoa que amo muito e me faz refletir sobre o verdadeiro valor da vida. Descobri que meu hobby é viajar. Muito mais que dançar, ouvir música ou desenhar. Que sou artista. Tiro fotos maravilhosas com a câmera de 5 megapixels do meu celular porque não tenho condições de comprar uma câmera melhor. Penso no futuro, com um otimismo que não pensei ser possível por muito tempo. Isso é maravilhoso e assusta um pouco. As crises virão, sempre virão. Mas tem luz no fim do túnel. Tenho 30 anos e quero ter mais 30 pela frente.

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Da maravilha de se ter amigos

Uma das coisas que mais amo em ter me casado com o Jones são os amigos dele. Pela primeira vez os raios cósmicos e as forças do universo se confluíram em um movimento perfeito de entrosamento. Adoro os amigos dele, eles me adoram (acredito eu) e os meus amigos gostam dos amigos dele. Coisa deliciosa. Isso tornou possível uma viagem que o "nosso" amigo Sérgio agendou e coordenou para Paraty, no Rio de Janeiro. Como carioca e historiadora, pasmem, nunca tinha ido à essa cidadezinha encrustada na Mata Atlântica por um lado e cercada pelo mar do outro. Sempre achei que devia ser uma cidade caríssima visto as tabelas tarifárias da maior parte dos hotéis e pousada que vi na internet. Uma dica de pesquisa é esse site: http://www.paraty.com.br/hoteis.asp (Eles fazem uma divisão por preço ou localidade). Como fomos de ônibus escolhemos uma pousada entre a rodoviária e o centro histórico na Avenida Roberto Silveira (http://www.paraty.com.br/brisadaserra/). A localização foi fundamental já que o Jones não pode andar muito. Ah! E também se forem de ônibus saibam que a viagem demora no mínimo cinco horas. Dramin na veia. Esqueci o meu e me ferrei na volta. Voltando ao post. Paraty é uma cidade charmosa e deliciosa. Não vou ficar me alongando aqui sobre a história da cidade, pois você pode pesquisar em diversos sites por aí. O que devemos saber é que Paraty teve seu momento áureo na época do ouro quando o caminho real terminava por lá e servia como porto de escoamento dos metais preciosos de Minas Gerais. Da abertura do caminho novo que modificou a rota para o Rio de Janeiro, Paraty viveu quase esquecida quando em fins do século XX foi redescoberta como rota turística. O seu centro histórico é todo tombado e foi por lá que ficamos. Fazia muito frio (15°C) e chovia muito. Mas mesmo assim nossa estadia foi maravilhosa. A população flutuante da cidade é enorme e vários são os idiomas e sotaques que você ouve ali e aqui. Prepare-se que o preço lá acompanha a inflação. Pão com mortadela comprado do supermercado pode ser a grande pedida da noite se você for um viajante pobre como eu. Acordar cedo, só se for passeio de escuna. Se não, apareça por lá só pelas 10h da manhã. As lojas do Centro Histórico só abrem mesmo à tarde e à noite. E tênis, muito tênis nos seus pés. Nada de salto ou sandalhinha. As pedras do Centro Histórico são um desafio à parte para todos os turistas. Eu caminhando com dificuldade, tentando não escorregar e carregar o Jones junto, vi estarrecida dois entregadores de bicicleta zanzando pelas ruas históricas com a mesma destreza que eu caminho no asfalto. Pensei que eles deviam aprender a andar de bicicleta ali antes mesmo de aprenderem a andar. Jones fez malabarismos com a sua bengala, mas não caiu uma só vez. Orgulho do meu menino! Conversando com a dona da Pousada ficamos sabendo que numa obra para o cabeamento subterrâneo de energia, as pedras do centro histórico não foram colocadas corretamente dificultando mais ainda o que já era dificultoso. Seria interessante colocar rampas de madeira nas laterais das ruas, facilitando o acesso às pessoas com dificuldade de locomoção. Visitar as igrejas históricas de Paraty foi um capítulo à parte. Duas estavam fechadas. A matriz conseguimos entrar e nos deparamos com um cachorro "rezando" aos pés da imagem de um santo. A outra (a de Santa Rita) sofremos bullying. O segurança nos fez dar a volta inteira no quarteirão para que o Jones pudesse chegar na Igreja e ter o prazer de dizer na porta que estava fechada para almoço. Raiva mil. Comemos no que achamos ser o restaurante mais barato do lugar com um "PF" de R$ 18,00 que infelizmente não comi pois o meu peixe era só espinha.Os demais adoraram seus pratos. Sorte a minha né?! E depois saboreamos um cafezinho no Café Divino. Sensacional! Café coado na sua frente, na sua mesa, com a proprietária que adora conversar tornando tudo muito mais aconchegante. Volto lá com certeza. Gostaria de agradecer ao Sergio por essa surpresa maravilhosa e por nos ter apresentado ao Ricardo, outra pessoa que dá gosto de conhecer. Ps.: Fiz 30 anos no domingo.

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Nova vida, novo amor, novos problemas e quase balsaquiana

Depois de muito pensar, repensar e lembrar dos apelos de meus ex-alunos decidi retomar o blog. Muita coisa aconteceu, muita coisa mesmo. Principalmente depois de ontem com meu ataque de fúria com meus bebelos. que terminou numa choradeira só, meu cabelos cortados aleatoriamente e medo de olhar no espelho. Mas vamos por parte. Número um: Me mudei. Sim saí de casa para uma simpática casinha de quarto e sala, numa vilazinha no bairro do Riachuelo. Depois de dois meses, Jones veio morar comigo. Ou seja, me apaixonei perdidamente pelo simpático carinha "nordestino" que faz faculdade de química. Número dois: Estou prestes a me mudar de novo para Duque de Caxias fugindo do aluguel. Número três: Zoé me abandonou e me trocou pela minha mãe. Snif snif. Número quatro: Pela primeira vez cortei os cabelos bem curtinho (num salão), mas cresceram. Número cinco: Me irritei e cortei na faca (vejam como está difícil de aceitar pois falo isso pela segunda vez). Número seis: Entrei como professora contratada no colégio Pedro II e encontrei os adolescentes mais bacanas que conheci. Número sete: Saí do Pedro II. Número oito: Entrei no doutorado. Sim, muitas coisas aconteceram. E creio que terei de fazer vários posts para comentar sobre elas. Mas hoje vamos nos deter no primeiro quesito. Morar sozinho. Veja, eu nunca morei sozinha. Mamãe sempre esteve ali limpando as coisas e Irmã comprava o pão. Mesmo agora eu não moro sozinha! Jones se instalou na minha casa, uma semana depois que recebi alguns móveis. O que posso dizer é que casar não é fácil. Você pode estar com a pessoa mais fantástica do mundo, mas você vai odiar a quantidade de sabão que ele usa pra lavar a roupa, o jeito que dobra a roupa, e os horários inconvenientes que usa o banheiro. Jones é o cara mais legal do mundo (e já estamos um bom tempo juntos). Muito calmo e prestativo. Lava, cozinha e passa. É meu empregado doméstico. A vizinha vive dizendo que ganhei na loteria. Mas o que aprendemos quando casamos? Que o pior inimigo somos nós mesmos. Não adianta a pessoa ser perfeita e se tu é um mala do convívio. Eu descobri o pior em mim. Descobri que ao contrário do que minha mãe pensa eu sou maníaca por arrumação, principalmente quando a bagunça é do outro. Descobri que sou viciada em desinfetantes. Limpo em meio a devaneios químicos. Descobri que adoro brigar por mínimos detalhes. Em só comentar sobre os deslizes caseiros do outro. E quando Jones faz alguma maravilha digo "não fez mais que a obrigação". Depois de muito refletir tenho tentado frear esse meu lado dark. Logo eu pessoa tão pacífica e flexível ... Acredito que Jones seja masoquista. Já falei que Jones faz bolos? Conquistou Papai pela barriga. Feito e tanto! E como sempre minha fama de má cozinheira aumentou. Mamãe não acredita que sobrevivo com almoços. Na verdade, percebi que ela só ficou mais relaxada quando descobriu que Jones cozinha aqui em casa. São bolos, carnes assadas, feijões, frango com batatas, peixes, saladas que estou pensando seriamente em levá-lo ao MasterChef Brasil. Jones só tem um problema sério. Ele adoro quebrar meus copos. Veja, eu comprei um monte de copos grossos na cor do arco-íris (dica: R$25,99 na Leader Magazine aqui do Rio de janeiro). Os copos são grossos feitos para não quebrarem com facilidade. Quebrou todos. Eu nem vi. Ele fica na surdina esperando que nunca perceba. Mas voltando ao quesito morar sozinho de aluguel, você descobre que existe dois personagens muito importantes na vida de jovem independente: o proprietário e a vizinha idosa. O primeiro, você irá detestar com todas as forças. Ele é o cara que pega metade do seu salário todo início do mês e demora séculos para consertar qualquer coisa que quebre na residência. Cara de bicheiro e 171 toda vida. O segundo personagem é do tipo ame-o ou deixe-o. Ou você o incorpora a sua filosofia de vida, ou meu amigo, se mude. Note: tenho três vizinhas idosas e todas sabem tudo o que acontece entre a crosta terrestre e a estratosfera da minha vida antes de mim. Outra coisa fantástica é quando seus novos parentes, os do seu marido no caso, aparecem para visitar. Notem: minha família é muito reservada, falam baixo e só conversam entre eles. A família do Jones não, você os escuta chegando na esquina da rua. Dão palpites inconvenientes, falam alto, soltam risadas e comentários preconceituosos com a sutileza de um peido de rinoceronte numa lagoa calma da savana africana. Todo mundo ouve. A confusão foi tanta quando vieram aqui da última vez que uma das minhas vizinhas idosas pediu arrego e foi dar uma passeada. Me sinto naquele filme "Casamento Grego", a família dele super sem graça e a dela explodindo de felicidade. Detalhe: nossas famílias não se conhecem ainda. Quando acontecer conto em primeira mão com pseudônimos e a frase "baseado em fatos reais". Segurem a pipoca. Agora chega. Jones acabou de descobrir um aplicativo de celular que só toca músicas do anos 80 e não sabe dar play. Já falei que odeio o celular do Jones? PS.: Daqui há dez dias faço 30 anos. Esperando para ver qual o presente que o Jones vai me dar. Se ele errar estou pensando em pegar a peixeira da minha mãe. Ela vai ficar orgulhosa de mim.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

150 anos de Ernesto Nazareth*

Hoje se perguntarmos a uma pessoa o que é o tango brasileiro, muito provavelmente a pessoa dirá "não sei". Ou então pergunte quem era Ernesto Nazareth. Poucas pessoas saberão de quem falamos. Numa época em que pagodes, sambas e outras músicas populares invadem as lojas e nossos iphones, deveríamos saber que houve outra época, em que mesclar o erudito com o popular foi inovador. Um feito para grandes mestres da música brasileira, o mais reconhecido deles, Ernesto Nazareth.
Ernesto Nazareth aos 45 anos, 1908. Coleção Luiz Antonio de Almeida. Fonte: http://www.ernestonazareth150anos.com.br/Images

Há 150 anos nasceu Ernesto Nazareth. Esse homem que foi, no fim de sua vida, paciente da Colônia Juliano Moreira, é visto como um dos grandes mestres da música popular brasileira. Lugar de destaque que divide com Chiquinha Gonzaga. Nasceu em uma casa na encosta do Morro do Pinto na região do Porto do Rio de Janeiro. Seu pai era um despachante aduaneiro e sua mãe, que morreu quando Ernesto ainda era criança, a responsável por lhe instruir os primeiros ensinamentos musicais. Aos 14 anos compôs sua primeira música, a polca-lundu “Você bem sabe”, uma resposta ao pai, para afirmar sua vocação musical. Ernesto Nazareth compôs mais de 200 obras, a mais famosa “Odeon”, e a maior parte delas tangos brasileiros, que faziam parte dos Chorões, uma união de ritmos que animava as festas (forrobodós) cariocas. Ligado às músicas eruditas, Nazareth trazia em suas composições elementos populares e africanos. Passou a vida, gravando músicas, se apresentando nas casas de música, como pianista demonstrador e no salão de espera do Cinema Odeon. Foi reconhecido internacionalmente, o que não lhe privou de uma vida modesta, apesar de suas músicas terem dado lucro para seus editores. Foi casado e pais de quatro filhos. Foi compositor, instrumentista, pianista e professor de música. 

Anúncios de discos da gravadora Odeon, 1930, incluindo o 78-RPM gravado pelo próprio Nazareth contendo as peças Apanhei-te, cavaquinho e Escovado. Coleção Luiz Antonio de Almeida. Fonte: http://www.ernestonazareth150anos.com.br/Images

No decorrer de sua vida perdeu a audição e foi diagnosticado com sífilis, sendo internado na Colônia Juliano Moreira em 1933. Na Colônia, tocava piano na casa do administrador. Em 1934, depois da visita da sua filha, Ernesto Nazareth fugiu da instituição. Seu corpo foi achado três dias depois, na cachoeira da Colônia, em estado de decomposição. Era um domingo triste de carnaval. O Rio de Janeiro havia perdido um grande compositor para a morte e a loucura. 

Reportagem anunciando a morte de Ernesto Nazareth, Correio da Manhã, terça-feira, 6 de fevereiro de 1934. Fonte: http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx

*Reportagem publicada no Jornal Abaixo-Assinado Jacarepaguá de julho de 2013.