segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Depoimento de uma não amante de carnaval.


Carnaval, nem me avisem quando acabar!

Confesso! Nunca gostei de carnaval. Quando não estou viajando, prefiro ficar ilhada na minha casa. Cinco dias tentando ignorar a tota Nem mesmo neste ano, fiquei na cidade do Rio durante a folia. Decidi passar esses cinco dias em Marica
A casa de Marica! É com essas saudosas e nostálgicas palavras (plagiadas da minissérie Maysa) a que me refiro à minha doce e muito pequena habitação localizada em frente a uma linda lagoa e longe de blocos, praia, agitação, mas com um mercadinho ali do lado.
Ainda que não possua o gosto pela folia nas minhas entranhas (isto meu amigo vem de berço e é genético), simpatizo com a festa de Momo... Eu aqui e ele lá, é claro, mas ainda sim gosto de abrir o jornal e saber qual escola de samba se destacou; qual ganhou na quarta; ver as fotos dos blocos; escutar os gritos dos foliões e torcedores durante a apuração dos votos. Tentei ainda me deixar levar pela onda contagiante, não ser apenas uma espectadora, mas também atriz no meio de tanto atores...
Não deu certo... prefiro ver o espetáculo.
Então na simpática quinta depois da folia, abro o jornal atrás de fotos, fantasias, opiniões, reportagens sobre a campeã e o balanço geral da festa. Mas uma sensação, até então não manifesta, me tocou profundamente. Decepção, não, mas estranhamento. Estranhamento de que novos tempos chegaram, que a educação da mamãe foi pro “beleléu” e que este não é a mais a festa da carne, mas da bebedeira. Essa é a sensação que eu e todos os espectadores devemos estar compartilhando. Os comentários animados sobre os blocos? E a reduzida seção sobre política e economia? Ao contrário, esta se multiplicou, e eu não se pelo medo e importância da crise ou por que o Carnaval deixou de ser que era.
Eu me pergunto (e, por favor, querido leitor se puder me responda), porque as prefeituras se matam para conseguir banheiros químicos e os bonacheirões foliões defecam do lado do simpático sanitário? Por que o saudável camarada decide pagar uma nota pela aparelhagem de som e coloca-lo em frente à um hospital? E porque leitor me diga, porque saindo do eixo zona sul - centro, ao invés de tocar as marchinhas que nos encantam e animam, a programação musical é basicamente funk e música baiana. Estamos na Bahia?!
Podem me chamar de estúpida, antiquada e obtusa, mas carnaval depois da proibição do entrudo e do lança-perfume era composto de serpentina, fantasia, romances e marchinhas...
A máxima em outros tempos era “pare mundo, pois hoje é carnaval”. Ou essa máxima se perdeu e se esqueceram de me avisar ou ela esta sendo literalmente aplicada. Engarrafamentos e trânsito confuso em pleno carnaval? ! É só olhar para a zona sul. Pista de gelo no centro da cidade?! Não, é a Presidente Vargas sendo limpa pelos garis com desinfetante contra urina acumulada. Carro da polícia depredado? Ah! É o bloco do Bola Preta passando. E a praça Odylo Costa em Santa Teresa? Cenário de filme de guerra.
Carnaval sempre teve prejuízos, algumas coisas quebradas e até confusão, afinal nada neste mundo é perfeito, porém este último, especialmente, superou todas as expectativas.  A Vila foi campeã e as notícias mais comentadas eram o quão perigosos se tornaram os quase 400 blocos de rua do Rio e a monstruosidade que ficou Gracyanne Barbosa na avenida - fato que levou o fantástico a fazer a matéria "a evolução dos corpos das rainhas de bateria" - falta do que dizer no carnaval, só pode.
Cadê o Momo, a tranquilidade da festa e a serpentina?
Podem me chamar de antiquada e dizer que evoco o carnaval utópico, mas enganados estão, pois o que evoco não são as marchinhas (a única que sei é bandeira branca), mas sim a folia em si. O balanço desta semana: carnaval é hora do “beber, cair e levantar”, mijar do lado do banheiro químico intocado, improvisar concentração de bloco na porta de hospital e depredar patrimônio público ...
Desculpem-me os adoradores da folia do século XXI, mas estes exemplos não são únicos e excepcionais, ao contrário são exemplos do generalizado. Neste novo século, carnaval sem ressaca, não é carnaval. O intuito não é a diversão.Temos, portanto, uma mudança de dinastia, despoja-se a diversão e coroa-se a bebedeira. 
Apesar dos inúmeros telefonemas de desesperados ilhados em casa pedindo asilo político durante os festejos de Momo (já que blocos impediam o trânsito de pedestres e carros) e também das visitas surpresas com o mesmo fim (precedidas por churrascos improvisados, horas de conversa fiada, até o tímido pedido do visitante que era, infelizmente, recusado devido ao tamanho da minha casinha), o mais desagradável,  não foi ver homens vestidos de piranha enquanto seres de outro planeta (ou do terceiro sexo - o que preferir) de fio dental e documentos amostra alisavam-se, mas sim dois estrangeiros (crentes que ninguém entendia inglês) afirmar que carnaval era feito de mulher nua e sujeira, e é claro preferiam a primeira. Desculpem-me as mulheres, mas tive que concordar com os gringos. Dos dois é o mal menor.

Declaração de uma espectadora carnavalesca carioca sobre os festejos de Momo do século XXI.

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