Carnaval, nem me avisem quando acabar!
Confesso!
Nunca gostei de carnaval. Quando não estou viajando, prefiro ficar ilhada na minha casa. Cinco dias tentando ignorar a tota Nem mesmo neste ano, fiquei na cidade do Rio durante
a folia. Decidi passar esses cinco dias em Marica
A
casa de Marica! É com essas saudosas e nostálgicas palavras (plagiadas da minissérie
Maysa) a que me refiro à minha doce e muito pequena habitação localizada em
frente a uma linda lagoa e longe de blocos, praia, agitação, mas com um
mercadinho ali do lado.
Ainda
que não possua o gosto pela folia nas minhas entranhas (isto meu amigo vem de
berço e é genético), simpatizo com a festa de Momo... Eu aqui e ele lá, é
claro, mas ainda sim gosto de abrir o jornal e saber qual escola de samba se destacou;
qual ganhou na quarta; ver as fotos dos blocos; escutar os gritos dos foliões e
torcedores durante a apuração dos votos. Tentei ainda me deixar levar pela onda
contagiante, não ser apenas uma espectadora, mas também atriz no meio de tanto
atores...
Não
deu certo... prefiro ver o espetáculo.
Então
na simpática quinta depois da folia, abro o jornal atrás de fotos, fantasias,
opiniões, reportagens sobre a campeã e o balanço geral da festa. Mas uma
sensação, até então não manifesta, me tocou profundamente. Decepção, não, mas
estranhamento. Estranhamento de que novos tempos chegaram, que a educação da
mamãe foi pro “beleléu” e que este não é a mais a festa da carne, mas da
bebedeira. Essa é a sensação que eu e todos os espectadores devemos estar
compartilhando. Os comentários animados sobre
os blocos? E a reduzida seção sobre política e economia? Ao contrário, esta se
multiplicou, e eu não se pelo medo e importância da crise ou por que o Carnaval
deixou de ser que era.
Eu
me pergunto (e, por favor, querido leitor se puder me responda), porque as
prefeituras se matam para conseguir banheiros químicos e os bonacheirões
foliões defecam do lado do simpático sanitário? Por que o saudável camarada
decide pagar uma nota pela aparelhagem de som e coloca-lo em frente à um
hospital? E porque leitor me diga, porque saindo do eixo zona sul - centro, ao invés de tocar as marchinhas que
nos encantam e animam, a programação musical é basicamente funk e música
baiana. Estamos na Bahia?!
Podem
me chamar de estúpida, antiquada e obtusa, mas carnaval depois da proibição do
entrudo e do lança-perfume era composto de serpentina, fantasia, romances e
marchinhas...
A
máxima em outros tempos era “pare mundo, pois hoje é carnaval”. Ou essa máxima
se perdeu e se esqueceram de me avisar ou ela esta sendo literalmente aplicada.
Engarrafamentos e trânsito confuso em pleno carnaval? ! É só olhar para a zona
sul. Pista de gelo no centro da cidade?! Não, é a Presidente Vargas sendo limpa
pelos garis com desinfetante contra urina acumulada. Carro da polícia depredado? Ah! É o bloco do Bola Preta passando. E a praça Odylo Costa em Santa Teresa ? Cenário
de filme de guerra.
Carnaval
sempre teve prejuízos, algumas coisas quebradas e até confusão, afinal nada
neste mundo é perfeito, porém este último, especialmente, superou todas as expectativas. A Vila foi campeã e as notícias mais comentadas eram o quão perigosos se tornaram os quase 400 blocos de rua do Rio e a monstruosidade que ficou Gracyanne Barbosa na avenida - fato que levou o fantástico a fazer a matéria "a evolução dos corpos das rainhas de bateria" - falta do que dizer no carnaval, só pode.
Cadê
o Momo, a tranquilidade da festa e a serpentina?
Podem
me chamar de antiquada e dizer que evoco o carnaval utópico, mas
enganados estão, pois o que evoco não são as marchinhas (a única que sei é bandeira
branca), mas sim a folia em si. O
balanço desta semana: carnaval é hora do “beber, cair e levantar”, mijar do
lado do banheiro químico intocado, improvisar concentração de bloco na
porta de hospital e depredar patrimônio público ...
Desculpem-me
os adoradores da folia do século XXI, mas estes exemplos não são únicos e
excepcionais, ao contrário são exemplos do generalizado. Neste novo século, carnaval
sem ressaca, não é carnaval. O intuito não é a diversão.Temos, portanto, uma mudança de
dinastia, despoja-se a diversão e coroa-se a bebedeira.
Apesar
dos inúmeros telefonemas de desesperados ilhados em casa pedindo asilo político
durante os festejos de Momo (já que blocos impediam o trânsito de pedestres e
carros) e também das visitas surpresas com o mesmo fim (precedidas por
churrascos improvisados, horas de conversa fiada, até o tímido pedido do
visitante que era, infelizmente, recusado devido ao tamanho da minha casinha),
o mais desagradável, não foi ver homens vestidos de piranha enquanto seres de outro
planeta (ou do terceiro sexo - o que preferir) de fio dental e documentos amostra alisavam-se, mas sim dois estrangeiros
(crentes que ninguém entendia inglês) afirmar que carnaval era feito de mulher nua e sujeira, e é claro preferiam a primeira. Desculpem-me as mulheres, mas tive
que concordar com os gringos. Dos dois é o mal menor.
Declaração de uma
espectadora carnavalesca carioca sobre os festejos de Momo do século XXI.
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