Nesse momento só queria estar assim que nem ela!
"Janis onde você trabalha agora?" Essa pergunta do Facebook me persegue todo dia. Eu abro minha página da rede social e o Face dá um jeitinho de colocar ali bem no cantinho, onde não capte sua atenção de imediato, mas que não saia do seu campo de visão. Eita perguntinha chata! Que pressão tradicional é essa que eu tenho que dizer onde trabalho? Tenho que ter um trabalho formal pra poder completar meu cadastro? Eu tenho que completar meu cadastro? Quem disse? E o pior é que mesmo sendo historiadora a rede social adora perguntar se eu trabalho no Hospital Estadual Albert Schweitzer ou em qualquer hospital Brasil afora.
Essa pergunta tão capiciosa me atormentou durante bom tempo. Como uma acadêmica, é muito comum ouvir um "quando você vai começar a trabalhar?" ou "você ganha dinheiro mas não assina carteira". Hoje em dia eu digo que trabalho na minha área acadêmica, que o mestrado e doutorado são trabalhos, meus orientadores são meus chefes, etc etc. Cansei de ouvir muita besteira de quem não faz a menor ideia do que fala e não acrescenta nada, absolutamente nada na minha vida. A opinião de meus pais e do Jones são os que levo comigo. São essas três únicas pessoas que importam afinal. "Mas vá lá Janis, que pensamento libertador, você é tão descolada" (ou seja lá o que digam hoje em dia). Gente, não sou tão inteligente e progressista quanto o grupo de cinema que integro no whatsapp pensa. Sou apenas fruto de inúmeras reflexões, ressacas e conflitos internos que enfrento nos últimos meses. Eu descobri que a perguntinha acima é só uma perguntinha e agora ela não tem poder nenhum. Ter um empregador, um "emprego" de carteira assinada, uma "carreira" ou o que for não vai me fazer uma pessoa melhor, com dinheiro, iluminada ou guru da felicidade. Ser feliz é amar as pessoas ao seu redor, viver bem consigo mesmo, fazer o bem, e poder andar na rua sem ser incomodado. Ter filosofia de vida que não agrida ninguém. Pra mim isso é ser feliz. Receber salário de fim do mês é bom ... pra comprar roupa, sorvete, viagem e roupinhas fofinhas e bizarras pra colocar nas gatinhas de casa. Ter dinheiro pelo que percebi te traz mais problema que resolução. Primeiro: VOCÊ TEM QUE FAZER O IMPOSTO DE RENDA. Tem coisa mais absurda que isso. Segundo: Levanta a cobiça das pessoas. Se você faz uma reforminha necessária na tua casa, caramba ... guarda o material e o pedreiro que a vizinhança vai bisbilhotar. Terceiro: se tu compra algo que precisa e inevitavelmente chega em casa com uma sacola diferente que a do supermercado, já te olham com uma cara que "tu tá cheio de grana". Quarto: ai tu resolve fazer uma viagem super desejada e alguém muito próximo vai estragar tudo dizendo o quanto desnecessário é esse teu capricho que o correto é ficar em casa e guardar para alguma ocasião (que pela lógica dele nunca virá). E por aí. Você fica escravo de um horário muitas vezes incompatível com seu horário biológico, se desdobrando para tornar o labor numa coisa mecânica e descobre que a vida de adulto é uma grande versão debochada da escola ou de um episódio de Grey Anatomy, só que agora você paga conta.
Não assinam minha carteira desde 2012 quando entrei em contrato para professor substituto. Estou, digamos, que fora do ambiente formal há muito tempo e espero até que retorne um dia para ter um renda segura para planejar minhas viagens com segurança. Quero ter um carrinho, mas só pra levar o Jones pra lá e pra cá e fazer uma reforma em casa porque está tendo goteiras na casa de baixo. E só. Escolhi uma profissão em que não tenho que ficar presa numa mesa e cadeira olhando a vida passar, sem dinâmica alguma além do jogo de paciência e no web whatsapp clandestino no pc da empresa. Nunca foi minha preocupação de vida ter uma carreira. Aí me mandam várias mensagens com concursos públicos e vagas com salários de 9 mil a 14 mil reais e pouquinho. Paro olho o edital e digo não. Não quero ficar presa em escritório por mais de 40 horas (porque no final será isso), levando trabalho pra casa e me estressando com problemas aqui e ali. Ou ainda entrar num ambiente hostil, mais selvagem e cruel que a "lei natureza". Não. Prefiro ficar aqui, nas salas de aula, com todos os problemas que possuí. Na penumbra, fazendo meu trabalho e tentando fazer a diferença daqui mesmo. Quero entrar em casa, ver a Elsa e falar "princesa da disney de araque que que tu fez o dia inteiro? Cadê o resto que não veio me ver?". Olhar pra cara do Jones e dizer um eu te amo, como forma de exorcizar os problemas. Fazer minhas aulas dos dias seguintes. Deitar e ver séries até dormir.
Quero acordar no fim de semana, dizer que quero sair e parar em Paquetá, assim sem mais nem menos, só porque deu vontade. Quero acordar, ver meus sobrinhos correndo atrás das gatas, dar um esporro neles e depois dar um sorvete. Não quero me mudar para um lugar mais chique porque condiz com meu status social, não quero vestir roupas de grife, não quero comprar carro do ano, não quero viajar para lugares luxuosos e colocar na rede social por status, não quero ter filhos porque mais conveniente no momento, não quero ter um gato ou cachorro de raça, não quero ler Dostoiévski porque sou hipster, hippie, indie, nerd, geek, etc etc. Quero só fazer a função que eu escolhi por amá-la, ver sorrisos e solucionar conflitos, pegar meu ônibus tranquila, dormir até quando não querer mais, viajar sem destino durante um mês inteiro e fazer amor com a pessoa que me aceitou do jeito que sou. Quero coisas simples. Se eu for "grande" (como meu pai diz) em algum setor profissional será pelo ocaso, não é minha finalidade. Se você tem esse desejo legal meu amigo! Ótimo pra você! Vá, busque seu sonho, só não pise em ninguém no meio do caminho! Espero que seja imensamente feliz! Mas se quando chegar, você um dia perceber que está infeliz e que você queria era mesmo o surf do final de semana e o parquezinho com as crianças, sinto muito, mas você foi vítima do "você tem que ter um emprego pra ser alguém, uma pessoa e um cidadão de respeito" que a sociedade impõe. Seja essa pessoa de respeito com que te faz feliz (sem matar ninguém tá?!)
E Facebook, eu não tenho uma resposta pra você? E não me importo. E sabe de uma coisa, se um dia tiver um crachá de não sei da onde. Pode deixar que eu não dizer de onde é. Me pergunte outra coisa como o que eu faço pra ser feliz, é melhor não acha?