Esses dias tenho me lembrado da época em que dançava, e me vieram as lembranças das aulas de teoria. Elas eram realizadas em um cômodo apertadíssimo onde só entravam seis pessoas. Em homenagem à essa época, e também satisfazendo o desejo de uma amiga, decidi realizar uma série de postagens sobre personalidades do mundo do ballet. A primeira é sobre Carlotta Grisi, uma das primeiras grandes bailarinas e eterna Giselle.
Carlota Grisi
(1818-1899)
Litografia de artista anônimo. Bailarina Carlota Grisi interpretando Giselle. Paris, 1841.
Os pais de Carlotta Grisi não eram músicos, embora quase
todos os membros de sua família tenham cantado na ópera. Ela também tinha uma
excelente voz, mas a dança foi seu verdadeiro amor a partir do momento em que entrou para a academia do Scala, quando
tinha sete anos de idade.
Até os seus 10 anos
ela interpretava seus próprios papéis, e em 1833, quando tinha 14 anos, seus
pais lhe deram permissão para realizar uma turnê pela Itália. Foi em Nápoles
que ela conheceu Jules Perrot, que atraído não apenas por seu talento, mas
também por sua personalidade, quieta e
gentil, a conduziu ao estrelato. Perrot começou como seu professor - tão
implacável e exigente como Taglione - mas ele logo se tornou seu amante também.
(O casamento deles nunca foi realizado, embora ela tenha aparecido em algumas
ocasiões como Madame Perrot).
Perrot garantiu-lhe espetáculos em Londres, Viena, Munique,
Milão, e finalmente, no Théâtre de la Renaissance, em Paris, onde Grisi dançou
e cantou em “Le Zingaro” de 1840. Um ano mais tarde, em fevereiro de 1841, ela fez sua estréia na ópera, e alguns
meses depois que apareceu em sua produção mais famosa “Giselle”.
Ela e Perrot foram se afastando com o tempo e, quando suas
contribuições em Giselle não foram sequer reconhecidas, ele partiu, deixando Grisi
sozinha em Paris. No entanto, a sua
dança em seu próximo papel principal em “La Péri” (1843), coreografado por
Coralli, trouxe-lhe um admirador devotado: Théophile Gautier. Seis meses mais
tarde, a Opéra estendeu seu contrato por três anos -, quatro vezes seu salário
original.
Durante os próximos anos Grisi apareceu em duas produções
excelentes na ópera, tanto por “Mazilier - Le Diablo à Quatre” (1845) e “Paquita”
(1846). Nesse meio tempo, ela também se tornou favorita no Teatro de Sua
Majestade, em Londres, onde sua relação de trabalho com Perrot rendeu-lhe o
papel-título de “A Esmeralda” (frequentemente citado com “”Giselle como um dos
dois melhores balés românticos). Em 1845, ela dançou com Taglioni, Cerrito e
Lucile Grahn o famoso “Pas de Quatre”. Em 1847, ela dançou como o Fogo em “Os
elementos” e no ano seguinte dançou como o verão em “As quatro estações”. Após
Perrot partir para a Rússia e sei substituído por Paul Taglioni, ela fez o
papel título de “Electra, ou la Pléiade Perdue” (1849). Em 1850, ela fez sua
última apresentação no ocidente, em “As metamorfoses”.
Logo ela se reuniu com Perrot, em São Petersburgo, onde sua
popularidade cresceu lentamente, mas principalmente depois que ele foi nomeado
mestre de balé em 1851. Em 1854, ela partiu para Varsóvia, onde pretendia
continuar a dançar. Mas estava grávida e com o pai da criança, o Príncipe
Radziwell, que a convenceu a se
aposentar quando ela ainda estava no auge de sua fama.
Felizmente instalada na propriedade que ele deu a ela em um
Saint-Jean, perto de Genebra, ela passou seus últimos 46 anos em aposentadoria
tranquila, junto de sua filha Ernestina e mantendo contato com alguns velhos
amigos, como Gautier, sempre devotado. Grisi morreu em 1899, um mês antes de
seu octogésimo aniversário.
(Traduzido de livro de Judith Steeh. History of Ballet and Modern Dance).
Grand Pas de Quatre com Kovaleva, Komleva, Yevteyeva e Galinskaya de 1968.